terça-feira, 24 de novembro de 2009

O Trovadorismo


A época do trovadorismo, também conhecida como primeira época medieval, abrange as origens da Língua Portuguesa, a língua galaico-portuguesa (o português arcaico) que compreende o período de 1189 a 1418. Portugal ocupava-se com as Cruzadas, a luta contra os mouros, e estava marcado pelo teocentrismo (universo centrado em Deus, a vida estava voltada para os valores espirituais e a salvação da alma) e pelo sistema feudal (sistema econômico e político, entre senhores e vassalos ou servos), já enfraquecido, em fase de decadência. Quando finalmente a guerra chega ao fim, começam manifestações sociais de período de paz, entre elas a literatura, e em torno dos castelos feudais também desenvolveu-se um tipo de literatura que redimensiona a visão do mundo medieval e aponta para novos caminhos, essa manifestação literária é o Trovadorismo.


Família Nobre Medieval
Seculo XIV

Características

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  • As poesias trovadorescas estão reunidas em cancioneiros ou Livros de canções, são três os cancioneiros: Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Vaticana e Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa (Colocci-Brancuti), além de um quarto livro de cantigas dedicadas à Virgem Maria pelo rei Afonso X, o Sábio. Surgiram também os textos em prosa de cronistas como Rui de Pina, Fernão Lopes e Eanes de Azuraram e as novelas de cavalaria, como A Demanda do Santo Graal.
  • Os poetas e cronistas dessa época eram chamados de trovadores, pois no norte da França, o poeta recebia o apelativo trouvère (em Português: trovador), cujo radical é: trouver (achar), dizia-se que os poetas “achavam” sua canção e a cantavam acompanhados de instrumentos como a cítara, a viola, a lira ou a harpa. Os poemas eram sempre cantados e acompanhados de instrumentos musicais e de dança, por isso eram chamados de cantigas. Entre as camadas mais populares, quem cantava e executava as cantigas eram os jograis.


  • As poesias trovadorescas estão reunidas em cancioneiros ou Livros de canções, são três os cancioneiros: Cancioneiro da Ajuda, Cancioneiro da Vaticana e Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa (Colocci-Brancuti), além de um quarto livro de cantigas dedicadas à Virgem Maria pelo rei Afonso X, o Sábio. Surgiram também os textos em prosa de cronistas como Rui de Pina, Fernão Lopes e Eanes de Azuraram e as novelas de cavalaria, como A Demanda do Santo Graal.

Tipos de Cantiga


Cantigas de amigo e cantigas de amor


Ambos os tipos foram cultivados nas cortes portuguêsas por trovadores que era, em geral, nobres do sexo masculino. Contudo, apresentam certas diferenças de forma e de conteúdo.

  • As cantigas de amigo têm raízes nas tradições da própria península Ibérica, em suas festas rurais e populares, em sua música e dança, nas quais abundam vestígios da cultura árabe. Apresentam normalmente ambientação rural, linguagem e estrutura simples.
  • As cantigas de amor têm raízes na poesia provençal (de Provença, região do sul da França), ambientes finos e aristocráticos das cortes francesas e, portanto, prendem-se a certas convenções de linguagens e de sentimentos.

Cantigas de escárnio e cantigas de maldizer

As cantigas de escárnio e as cantigas de maldizer constituem a primeira experiência da literatura portuguesa na Sátira. Além disso, possuem um importante valor histórico como registro da sociedade medieval portuguesa em seus aspectos culturais, morais, linguisticos,etc.
Menos presas a modelos e convenções do que as cantigas de amigo e de amor; as cantigas satíricas buscaram um caminho poético próprio, explorando diferentes recursos expressivos.

  • As cantigas de escárnio são críticas, utilizando de sarcasmo e ironia, feitas de modo indireto, algumas usam palavras de duplo sentido, para que, não entenda-se o sentido real.
  • As cantigas de maldizer, utilizam uma linguagem mais vulgar, referindo-se diretamente a suas personagens, com agressividade e com duras palavras, que querem dizer mal e não haverá outro modo de interpretar.

Os temas centrais destas cantigas são as disputas políticas, as questões e ironias que os trovadores se lançam mutuamente.

As novelas de cavalaria - Surgiram derivadas de canções de gesta e de poemas épicos medievais. Refletiam os ideais da nobreza feudal: o espírito cavalheiresco, a fidelidade, a coragem, o amor servil, mas estavam também impregnadas de elementos da mitologia céltica. A história mais conhecida é A Demanda do Santo Graal, a qual reúne dois elementos fundamentais da Idade Média quando coloca a Cavalaria a serviço da Religiosidade. Outras novelas que também merecem destaque são "José de Arimatéia" e "Amadis de Gaula".

Principais Autores (Trovadores)


Os mais conhecidos trovadores foram: João Soares de Paiva, Paio Soares de Taveirós, o rei D. Dinis, João Garcia de Guilhade, Afonso Sanches, João Zorro, Aires Nunes, Nuno Fernandes Torneol.

Mas aqui serão citados apenas alguns.

Paio Soares Taveirós

Paio Soares Taveiroos (ou Taveirós) era um trovador da primeira metade do século XIII. De origem nobre, é o autor da Cantiga de Amor A Ribeirinha, considerada a primeira obra em língua galaico-portuguesa.

D. Dinis

Dom Dinis, o Trovador, foi um rei importante para Portugal, sua lírica foi de 139 cantigas, a maioria de amor, apresentando alto domínio técnico e lirismo, tendo renovado a cultura numa época em que ela estava em decadência em terras ibéricas.

D. Afonso X

D. Afonso X, o Sábio, foi rei de Leão e Castela. É considerado o grande renovador da cultura peninsular na segunda metade do século XIII. Acolheu na sua corte e trovadores, tendo ele próprio escrito um grande número de composições em galaico-português que ficaram conhecidas como Cantigas de Santa Maria. Promoveu, além da poesia, a historiografia, a astronomia e o direito, tendo elaborado a General Historia, a Crônica de España, Libro de los Juegos, Las Siete Partidas, Fuero Real, Libros del Saber de Astronomia, entre outras.

D. Duarte

D. Duarte foi o décimo primeiro rei de Portugal e o segundo da segunda dinastia. D. Duarte foi um rei dado às letras, tendo feito a tradução de autores latinos e italianos e organizando uma importante biblioteca particular. Ele próprio nas suas obras mostra conhecimento dos autores latinos.

Obras: Livro dos Conselhos; Leal Conselheiro; Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda a Sela.

Fernão Lopes

Fernão Lopes é considerado o maior historiógrafo de língua portuguesa, aliando a investigação à preocupação pela busca da verdade. D. Duarte concedeu-lhe uma tença anual para ele se dedicar à investigação da história do reino, devendo redigir uma Crônica Geral do Reino de Portugal. Correu a província a buscar informações, informações estas que depois lhe serviram para escrever as várias crônicas (Crônica de D. Pedro I, Crônica de D. Fernando, Crônica de D. João I, Crônica de Cinco Reis de Portugal e Crônicas dos Sete Primeiros Reis de Portugal). Foi “guardador das escrituras” da Torre do Tombo.

Frei João Álvares

Frei João Álvares a pedido do Infante D. Henrique, escreveu a Crônica do Infante Santo D. Fernando. Nomeado abade do mosteiro de Paço de Sousa, dedicou-se à tradução de algumas obras pias: Regra de São Bento, os Sermões aos Irmãos do Ermo atribuídos a Santo Agostinho e o livro I da Imitação de Cristo.

Gomes Eanes de Zurara

Gomes Eanes de Zurara, filho de João Eanes de Zurara. Teve a seu cargo a guarda da livraria real, obtendo em 1454 o cargo de “cronista-mor” da Torre do Tombo, sucedendo assim a Fernão Lopes. Das crônicas que escreveu destacam-se: Crônica da Tomada de Ceuta, Crônica do Conde D. Pedro de Meneses, Crônica do Conde D. Duarte de Meneses e Crônica do Descobrimento e Conquista de Guiné.

Cantiga da Ribeirinha


Cantiga da Ribeirinha ou Cantiga de Guarvaia é o primeiro texto literário em língua galaico-portuguesa de que se tem registro. A cantiga foi composta provavelmente em 1198, por Paio Soares de Taveirós, e recebeu esse nome por ter sito dedicada à Dona Maria Pais Ribeiro, amante de Dom Sancho I, apelidada de Ribeirinha. Segue o modelo das cantigas de amor do Trovadorismo galego-português (possui o eu-lírico masculino), pois fala de um amor platônico por uma mulher nobre e inacessível.

No mundo non me sei parelha,
Mentre me for como me vai,
Cá já moiro por vós, e - ai!
Mia senhor branca e vermelha.
Queredes que vos retraia
Quando vos eu vi em saia!
Mau dia me levantei,
Que vos enton non vi fea!

E, mia senhor, desd'aquel'di, ai!
Me foi a mi mui mal,
E vós, filha de don Paai
Moniz, e bem vos semelha
D'haver eu por vós guarvaia,
Pois eu, mia senhor, d'alfaia
Nunca de vós houve nem hei
Valia d'ua correa.


Tradução:

No mundo não conheço outro como eu,
enquanto me acontecer como me acontece:
porque já morro por vós, e ai!,
minha senhora branca e vermelha,
quereis que vos censure
quando vos eu vi em saia? (em corpo bem feito)
Mau dia me levantei
que vos então não vi feia!

E, minha senhora, desde então,
passei muitos maus dias, ai!
E vós, filha de D. Paio
Moniz, parece-vos bem
ter eu de vós uma garvaia? (manto)
Pois eu, minha senhora, de presente
nunca de vós tive nem tenho
nem a mais pequenina coisa.


Atividades para avaliação

  1. Por que os trovadores receberam tal nome?
  2. Quem eram os Jograis?
  3. O que eram os cancioneiros?
  4. Quais os tipos de cantiga?
  5. Em que época surgiu o Trovadorismo?
  6. Qual a diferença entre cantigas de escárnio e maldizer?
  7. Qual tipo de cantiga teve origem na península Ibérica?
  8. Em que linguagem foram escritas as cantigas?
  9. Cite 4 trovadores
  10. Qual a cantiga mais antiga conhecida?